6.13 Ora, como justa retribuição (falo-vos como a filhos),
dilatai-vos também vós. 14 Não vos ponhais em jugo desigual com
os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a
iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? 15 Que
harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? 16
Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos
santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre
eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. 17 Por isso,
retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas
impuras; e eu vos receberei, 18 serei vosso Pai, e vós sereis
para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.
Começaremos nossa análise avaliando sobre o que o
apóstolo Paulo está falando nesse texto. Observando o contexto, que a fala de
Paulo é sobre “sociedade”, “comunhão”, “harmonia”, “união” e “ligação” entre
servos de Deus e pessoas incrédulas (v.v. 14-18). Todas essas palavras reforçam
o pensamento de que o crente deve avaliar com muito cuidado seus laços de
relacionamentos e negócios com incrédulos.
Dito isto, vamos avaliar a expressão grega “heterozugeo”, traduzida
para o português como jugo desigual. No grego a expressão aponta
para alguém que tem um relacionamento desigual ou que tem comunhão com alguém
que não é semelhante. (Léxico de Strong). No português a palavra “jugo” aponta
para uma “canga ou junta de bois” (Dicionário Priberam), que era um objeto que
unia dois bois para que andassem no mesmo compasso, enquanto puxavam o carro de
boi (veja imagem abaixo). Uma figura bastante clara de “algo” que une duas ou
mais pessoas em torno de um objetivo em comum. Se o jugo estava desigual, os bois
não conseguiam atingir o objetivo de fazer o carro de boi andar corretamente,
além de sofrerem muito.
A palavra sociedade, traduzida do grego “metoche”,
significa partilhar, participar. A palavra comunhão, traduzida do grego “koinonia”,
significa ter uma relação de intimidade, de comunhão intima com alguém. A
palavra harmonia, traduzida do grego “sumphonesis”, significa
concordância, acordo. A palavra união, traduzida do grego “meris”,
significa uma parte designada, traduzida em algumas versões bíblicas em
português como “em comum”. A palavra ligação, traduzida do grego “sugkatathesis”,
significa aprovação, assentimento, acordo. Em tais expressões, podemos entender que Paulo está
falando de uma união de pensamentos e
propósitos nas relações entre crentes e incrédulos. Uma união de intimidade que
os faz andar nos mesmos propósitos. Propósitos, é claro, conflitantes com a sã
doutrina (jugo desigual) e, por isso, veementemente rejeitados por Deus.
Penso que Paulo não está proibindo aqui todo tipo
de relacionamento com incrédulos, caso contrário, seria impossível realizar a
obra de evangelização ordenada por Jesus e até viver nesse mundo.
O que está em foco aqui é uma união de propósitos
que não combinarão nunca devido suas diferenças claras. Note as perguntas de
Paulo que expõe o contraste claro desse tipo de união de propósitos: “quesociedade pode
haver entre a justiça e a iniquidade? Ou quecomunhão,
da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo
e o Maligno? Ou que união, do crente com o
incrédulo? Que ligação há entre o santuário de
Deus e os ídolos?” (2 Coríntios 6.14-16). Era um jugo desigual, ao qual estavam presos por suas afeições, e que exigia sua lealdade embora esses parceiros fossem “imundos”: totalmente incompatíveis com o alimento espiritual e o sacrifício de seus corpos a Deus que era o seu culto racional.
Na expressão "jugo desigual" há uma
figura de linguagem que se baseia na forma em que animais são emparelhados e
atrelados para puxar uma carroça ou arado na agricultura primitiva.O jugo, que talvez conheçamos melhor por canga, é
uma peça de madeira assentada sobre o pescoço dos animais, geralmente bois,
para mantê-los submissos e obedientes a quem os conduz.
Figura do jugo
Para o conforto dos animais e a fim de permitir o
aproveitamento melhor de cada um, é importante que sejam de natureza e porte
iguais. Em Deuteronômio 22:10 foi proibido aos israelitas emparelhar um boi com
um jumento para lavrar. São animais de porte e natureza diferentes, além do que
o boi era um animal “limpo”, permitido para alimento e sacrifícios ao Senhor
enquanto o jumento era “impuro”, proibido para essas coisas.
Por analogia, em sentido figurado, jugo representa uma sujeição imposta
pela força ou autoridade, mesmo opressão, e também representa um vínculo de
submissão e obediência .
“17 Por isso, retirai-vos do meio deles,
separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, 18
serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor
Todo-Poderoso.”
O crente tem uma nova natureza que lhe é dada ao
nascer de novo quando morre para si mesmo e passa a viver para Cristo ao
converter-se. Ele continua no mundo, mas já não mais pertence ao mundo. Sua
lealdade agora é para com Cristo, seus ideais consistem em seguir os caminhos
de Deus e obedecer aos seus mandamentos. Já é uma nova criatura e é tão
diferente dos incrédulos como é o boi do jumento, naquela figura.
1 - Há aqui um contraste.(14-15)
14 Não vos ponhais em jugo
desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça
e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? 15 Que
harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?
Paulo contrasta justiça com injustiça, luz com
trevas, Cristo com o Maligno (o diabo é entendido aqui), fiel com Infiel,
templo de Deus (o crente) com ídolos (o incrédulo). Denominando pessoas ou coisas de qualidades totalmente opostas.
Assim difere o verdadeiro crente do incrédulo empedernido. É impossível haver
concordância entre eles. Como então explicar como um crente pode não só
consentir mas ter gosto em vincular-se, e assim restringir a sua liberdade, com
essas pessoas ou coisas?
Como os crentes de Corinto, ele poderá já de início
encontrar-se emparelhado com os incrédulos, em vínculos de submissão e obediência a religiões falsas, sociedades
maliciosas e escusas, convenções mundanas, e outros similares. Essa parceria e submissão são
altamente prejudiciais às suas obrigações para com o seu Senhor e Mestre, à sua
integridade, e aos padrões elevados que lhe convém manter.
1 Co 5.9-12
Já em carta vos escrevi que não vos associásseis
com os impuros;
10 refiro-me, com isto, não propriamente aos
impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste
caso, teríeis de sair do mundo. 11 Mas, agora, vos escrevo que
não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou
idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda
comais. 12 Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora?
Não julgais vós os de dentro? 13 Os de fora, porém, Deus os
julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.
Porém , os crentes também não deveriam deixar
os seus cônjuges incrédulos se estes concordassem em continuar vivendo com eles
(1 Coríntios 7:12,13). Os crentes têm que ser testemunhas ativas de Cristo no
meio dos infiéis, pois são o sal ou a luz no mundo.
Mas vincular-se em submissão ao
mesmo jugo que eles é diferente: Paulo define a liberdade do crente como “Todas
as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm … eu não me deixarei
dominar por nenhuma … nem todas as coisas edificam” (1 Coríntios 6:12,
10:23). A simples convivência é diferente da vinculação a uma submissão ou
obediência, mediante uma convenção junto com eles. Paulo está, sem dúvida,
condenando aqui as associações pessoais ou sociais feitas de espontânea vontade
com os incrédulos, quando, longe de edificar a vida espiritual do crente, elas
cerceiam ou mesmo prejudicam o testemunho da sua fé. Ao pertencer, o crente
estará sendo dominado por elas.
2- O mandamento é “saí do meio deles, e
apartai-vos, diz o Senhor”.
Evidentemente, muito menos ainda
podemos começar por entrar, depois de ter sido recebidos como filhos de Deus.
Devemos fazer de tudo que estiver ao nosso alcance para evitar situações em que
nossa lealdade seja dividida, pois nossa dedicação a Deus deve ser integral. Isto
significa odiar o mundo, como Paulo disse: “Mas longe esteja de mim gloriar-me,
senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo”
(Gálatas 6:14). Uma cruz o separava deste sistema mundial satânico, e ele se
gloriava nessa cruz mediante a qual o mundo havia morrido para ele, e ele para
o mundo.
O mundo está passando - vai chegar a um fim, assim
como as trevas vão se dissipar (1 João 2:8) - mesmo a sua concupiscência. Mas
aquele que persevera em fazer a vontade de Deus permanece eternamente: ele está
fazendo aquilo que é permanente, tem estabilidade e vai durar por toda a
eternidade.
Sejamos perspicazes para aprender de Deus como
viver no mundo sem ser parte dele!
Welinton
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