Jesus declarou: “Sabeis que
os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre
eles. Não é assim entre vós.” Ele rejeitou total e completamente os sistemas de
ordem de importância de seu tempo. Como, pois, devia ser entre eles? “Quem
quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva... tal como o
Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir” (Mateus
20:25-28). Portanto, a autoridade espiritual a que Jesus se referia não era uma
autoridade que se encontrava numa posição, num título, mas numa toalha.
Se o verdadeiro serviço deve
ser entendido e praticado, é preciso distingui-lo claramente do “serviço
farisaico”.
O serviço farisaico é
prestado pelo esforço humano. Ele gasta somas imensas de energia calculando e
planejando como prestar o serviço. Gráficos e mapas sociológicos podem ser
projetados de modo que podemos “ajudar essas pessoas”. O verdadeiro serviço
provém de um relacionamento com o Outro divino em nosso íntimo. Servimos por
instigações cochichadas, por insistências divinas.
Despende-se energia, mas não
é a energia frenética da carne. Thomas Kelly escreve: “Descubro que ele [Deus]
nunca nos guia a uma mixórdia intolerável de intranqüilidade ofegante.”
O serviço farisaico
impressiona-se com a “aparência”. Ele está interessado em registrar lucros
impressionantes no “placar” eclesiástico. Gosta de servir, especialmente quando
o serviço é titânico. O serviço verdadeiro acha quase impossível distinguir
entre serviço pequeno e serviço grande. Onde se observa a diferença o
verdadeiro servo parece ser freqüentemente atraído para o serviço pequeno, não
por falsa modéstia, mas porque ele o vê genuinamente como serviço importante.
Ele recebe com agrado, indiscriminadamente, todas as oportunidade de servir.
O serviço farisaico demanda
recompensas exteriores. Ele precisa saber que as pessoas vêem e apreciam o
esforço. Ele busca o aplauso dos homens - com a devida modéstia religiosa, é
claro. O verdadeiro serviço descansa contente no anonimato. Ele não teme as
luzes e o frêmito da atenção, mas também não os busca. Uma vez que ele vive a
partir de um novo Centro de Referência, o aceno divino de aprovação é quanto
basta.
O serviço farisaico está
muitíssimo preocupado com os resultados. Ele espera ansiosamente para ver se a
pessoa servida retribui na mesma moeda. Amargura-se quando os resultados ficam
aquém das expectativas. O verdadeiro serviço está livre da necessidade de
calcular resultados. Ele deleita-se apenas no serviço.Pode servir os inimigos com a
mesma liberdade com que serve os amigos.
O serviço farisaico escolhe
minuciosamente a quem servir. Às vezes os nobres e poderosos são servidos
porque isso trará certa vantagem. Às vezes os humildes e indefesos são servidos
porque isso garantirá uma imagem humilde. O verdadeiro serviço não discrimina
em seu ministério. Ele ouviu a ordem de Jesus de ser “servo de todos” (Marcos
9:35). Francisco de Assis escreveu: “Sendo servo de todos, estou obrigado a
servir a todos e administrar as palavras suavizadoras de meu senhor.”
O serviço farisaico é afetado
por estados de ânimo e caprichos. Ele só pode servir quando há um “sentimento”
de servir (“movido pelo Espírito”, conforme dizemos). Saúde ruim ou sono
insuficiente controlarão o desejo de servir. O verdadeiro serviço ministra simples
e fielmente porque há uma necessidade. Ele sabe que o “sentimento de servir”
pode, muitas vezes, constituir-se em obstáculo ao verdadeiro serviço. Ele
recusa permitir que o sentimento controle o serviço, mas permite que o serviço
discipline os sentimentos.
O serviço farisaico é
temporário. Funciona somente enquanto se executam os atos específicos do
serviço. Havendo servido, pode descansar sossegado. O verdadeiro serviço é um
estilo de vida. Ele atua a partir de padrões arraigados de vida.
Brota espontaneamente para
satisfazer a necessidade humana.
O serviço farisaico não tem
sensibilidade. Ele insiste em satisfazer a necessidade mesmo que o resultado
seja destrutivo. Ele exige a oportunidade de ajudar. O serviço verdadeiro pode
deixar de prestar o serviço tão livremente quando executá-lo. Pode ouvir com
ternura e paciência antes de atuar. Pode servir enquanto espera em silêncio. “Servem,
também, aqueles que apenas ficam firmes e esperam.”
O serviço farisaico fratura a
comunidade. Na análise final (uma vez removidas todas as armadilhas religiosas)
ele se concentra na glorificação do indivíduo.
Portanto, ele coloca os
outros a nosso débito e se torna uma das mais sutis e destrutivas formas de
manipulação conhecidas. O resultado é a ruptura da comunidade.
O verdadeiro serviço, por
outro lado, edifica a comunidade. Silenciosa e despretensiosamente ele vai aqui
e ali cuidando das necessidades alheias; não obriga ninguém a retribuir o
serviço. Ele atrai, une, cura, edifica. O resultado é uma comunidade unida.
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